quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

DUNS SCOTUS: DOUTOR SUTIL DA ESCOLÁSTICA PÓS-TOMISTA

JOÃO DUNS SCOTUS  é considerado o maior vulto da escolástica pós-tomista. Nascido na Inglaterra, pertenceu à Ordem Franciscana, estudou e lecionou na Universidade de Oxford, e logo após, em Paris. Faleceu em 1308, e seus principais legados são a Obra Oxoniense, onde comenta as sentenças de Pedro Lombardo, e a Obra Parisiense.

CONCEITO DE FILOSOFIA E TEOLOGIA

O conceito de Filosofia para Scotus, dependente do seu agostinismo, é o de um instrumento de compreensão da Fé, um meio para conhecer a doutrina cristã, e não obra autônoma da inteligência humana, como ensinava Tomás de Aquino. Por outro lado, a Teologia não é uma ciência essencialmente especulativa, como o tomismo ensina, mas somente prática, bem de acordo com o voluntarismo agostiniano do filósofo.

A GNOSIOLOGIA SCOTISTA

O escotismo é adepto da gnosiologia iluminista-intuicionista agostiniana, em contradição com o empirismo aristotélico-tomista que ensina o conhecimento começar pelos sentidos. Segundo o Doutor Sutil, a alma deveria conhecer diretamente as essências tanto materiais quanto espirituais, mas isso não ocorre devido à sua escravidão ao corpo, decorrente do pecado original.

Para Scotus, muitas proposições filosóficas e teológicas só são aceitáveis unicamente por fé, mediante a revelação, pois são determinadas e impostas pela livre vontade de Deus. Aqui se vê o agostinismo, mediante o voluntarismo, influindo na teoria do conhecimento scotista. E mais. As criaturas são produções livres da vontade divina, e não decorrências da essência racional de Deus. Sendo assim, é impossível inferir com certeza do efeito para a causa, porque, se Deus quisesse, uma tal causa poderia produzir um efeito diverso do atual.

A PSICOLOGIA

Ainda inspirado no agostinismo, ensina o scotismo que a alma é uma substância completa, independente em relação ao corpo, em oposição ao tomismo, para quem a alma é uma substância incompleta que, junto com o corpo, se une substancialmente perfazendo um todo.

Outra assertiva desta doutrina é a de que todo ser é composto de matéria e forma, mesmo os espirituais. A matéria prima não é mera potência, mas já possui uma realidade própria, já tem algum ato, e a forma, por sua vez, no ser vivo, não é única, mas cada indivíduo possui múltiplas formas, ou seja, múltiplas almas. Esta tese é também frontalmente contrária ao tomismo, que ensina haver uma só forma para cada indivíduo.

A individuação (aquilo que torna um ser individual, indiviso, com suas notas) não é pela matéria, conforme Santo Tomás ensina: a matéria assinalada pela quantidade é o que torna um ser individual, mas, no scotismo, é mediante um elemento formal individual, chamado haecceitas. Este elemento se sobrepõe à matéria por si subsistente, já em ato, e às várias formas, determinando o indivíduo.

O voluntarismo é outra marca do agostinianismo que o scotismo aquiesceu. A vontade tem preeminência sobre a inteligência, e por isso, não depende do intelecto, mas o intelecto depende da vontade. O amor, para Scotus, é o que leva a Deus, pois Este é atingido pela vontade na bem-aventurança, e não pelo intelecto, pelo conhecimento, conforme Tomás. Depois, as criaturas não dependem essencialmente da razão divina, mas da vontade divina, impossibilitando, conforme vimos, subir dos efeitos à Causa, e tornando inviável as cinco vias racionais da demonstração de Deus. E mais. A ordem moral não é boa intrinsecamente por motivo racional, mas unicamente porque é querida assim por Deus, que livremente poderia dispor de outra maneira, uma moral contrária em que, por exemplo, o suicídio, o homicídio, o roubo, fossem ações morais, e imorais as opostas.

Sintetizando, as principais teses scotistas que se contrapõem ao tomismo, são as seguintes:

1) Todos os seres, mesmo os espirituais, são compostos de matéria e forma;
2) A matéria não é mera potência, inexistente sem a forma, mas tem já uma realidade prórpria;
3) Há muliplicidade de formas em cada indivíduo, ou seja, um único homem tem várias almas e não uma só;
4) A individuação é feita mediante um elemento formal individual, a haecceitas, e não mediante a matéria;
5) A vontade é superior ao intelecto tanto no homem quanto em Deus, logo tudo depende da vontade divina, podendo Deus mudar quando quiser as verdade metafísicas e morais, transformando, por exemplo, as virtudes em vícios, e vice-versa.
Paulo Barbosa.


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